A MÁQUINA VAI ACABAR COM O PROFESSOR?
Arnaldo Niskier
Há uma
acentuada tendência, no mundo desenvolvido, de valorizar
intensamente a indústria do conhecimento. A educação, que vive
em crise, não poderia estar ausente. Se a Inglaterra promove uma
grande reforma para aperfeiçoar sua educação básica, por que
o fenômeno, como um "El Ninõ" pedagógico, não
poderia chegar rapidamente ao Brasil, provocando tormenta no
cérebro dos educadores?
Alvin e Heidi Toffer (Folha, 8/3) apontaram
soluções para a crise do ensino na era tecnológica. A
educação do século 21 deve combinar satisfatoriamente cinco
elementos essenciais: informática, mídia ("não é só
botar televisores na sala de aula"), pais, comunidade e
professores, que devem ser libertados das escolas-fábricas e
transformados em corretores de rumos.
Discutimos vivamente o tema com o acadêmico
padre Fernando Bastos de Ávila, na Confederação Nacional do
Comércio. Ele considera "fantasmagórica" a
expectativa de uso da parafernália eletrônica nas escolas,
preocupando-se mais com o humanismo do que propriamente com a
tecnologia. Na verdade, há toda uma perspectiva de aprendizado,
na escola e fora, que deve ser considerada se quisermos orientar
as crianças para o caminho do bem.
No livro "O Monstro Embaixo da
Cama", de Stan davis e Jim Botkin (editora Futura, SP,
1996), revelam-se as armadilhas da revolução da aprendizagem e
a existência de dinossauros nas empresas e nas instituições de
ensino que não se adaptam à nova realidade.
Os conhecimentos duplicam a cada sete anos. As
empresas estão diante de uma revolução, que enfrentam de sete
maneiras (reparem o grande envolvimento da educação): 1) a
empresa terá a principal responsabilidade pelo tipo de
educação necessário para qualquer país continuar a ser
competitivo na nova economia; 2) o mercado está sendo
impressionantemente redefinido para uma aprendizagem permanente,
cujos segmentos principais são clientes, empregados e
estudantes, nessa ordem; 3) qualquer empresa pode se tornar
produtora de conhecimento; 4) uma nova geração de tecnologias
inteligentes e humanizadas revolucionará a aprendizagem na
empresa, antes de afetar alunos e professores nas escolas; 5) a
aprendizagem orientada pela empresa será organizada de acordo
com os valores da atual era da informação; 6) as escolas
adotarão práticas empresariais para aperfeiçoar seu
desempenho, ficando claro que o ensino ministrado nas escolas
públicas não irá desaparecer; 7) a revolução na maneira de
aprender vai piorar a já grave divisão entre as classes,
exigindo que corrijamos desigualdades humanas e sociais.
Para que haja progresso, às vésperas do novo século, devemos
desaprender antes de aprender mais. Depois, dar os quatro passos
a caminho da sabedoria, adquirindo necessária intimidade com
expressões como informação, conhecimento, educação e
aprendizagem. Cada uma tem sua especificidade e sua riqueza. Na
escola do futuro haverá prédio? Ou mesmo escola? São tantas as
inovações em curso que o observador desatento poderá até
tontear.
Os EUA têm 60 milhões de micros, metade em
residências particulares. Já imaginaram o potencial de
aprendizagem que isso encerra? O emprego dos satélites é um
decisivo elemento agregado, como se faz no Canadá, pelo
bem-sucedido sistema Schoolnet. A fusão desses elementos tem a
força de uma autêntica revolução, que prevê produtos
inteligentes à disposição dos exigentes consumidores do
futuro.
Televisores são dispositivos de aprendizagem
( como na Rede Futura, no Brasil). Bibliotecas eletrônicas e
vídeos combinando telefone, televisão e computador promoverão
a aprendizagem de forma efetiva e ampla, definindo-a mais por
quem a pratica do que pelo lugar de oferta. Como afirmam Davis e
Botkin, "o valor da educação do indivíduo será medido
pela mistura proporcional dos dados, informações e
conhecimentos contidos nessa educação".
Essa é a verdadeira educação do futuro, em
que se vai tentar superar os limites do conhecimento para chegar
à sabedoria. Parece que estamos dando conseqüência ao sábio
pensamento de Albert Einstein: "A imaginação é muito mais
importante que o conhecimento".
Em recente visita à livraria Barnes and
Noble, nos EUA, passamos horas compulsando sua oferta de
materiais de ensino. Livros, é claro, mas também softwares,
vídeos e audiolivros. Há um crescimento explosivo na indústria
do ensino fora da escola, o que nos faz prever, muito em breve,
uma imensa transformação no que hoje se oferece aos usuários
desse processo essencial.
Veja-se o modelo de ensino baseado na mídia.
Cresce sua notória eficácia, sem que vá nisso risco de
substituição de professores (dos ruins, sim). Caminhamos para a
humanização das tecnologias, com os computadores que reconhecem
a voz, o uso das telas de toque e o reconhecimento da caligrafia,
de que o "pen system" é o primeiro passo.
Quem duvida de que a multimídia poderá
ganhar de goleada do livro escolar, sem necessariamente
eliminá-lo? Será muito mais atraente e acessível, como quer
demonstrar a IBM. Com a vantagem de que logo virá a multimídia
interativa, superando o atual, para uma troca permanente de
informação ativa.
Todos os tipos de inteligência e aprendizagem
que provêm de nossos cérebros e corações terão infinitas
possibilidades de ajuda, desde que o homem compreenda o momento
que está vivendo, de profundas transformações.
FOLHA DE SÃO PAULO
CADERNO TENDÊNCIAS
19/03/98