FAMÍLIA, ESCOLA E FORMAÇÃO DA CIDADANIA
Há vários
tipos de família: com pais casados, recasados, solteiros ou
viúvos; várias gerações vivendo na mesma casa; pais
biológicos e adotivos; grupos de amigas que vivem juntas com os
filhos de todas.
Cada uma dessas organizações familiares tem
suas próprias características, dificuldades e possibilidades.
Crianças, jovens e adultos têm o poder de contribuir, de modo
positivo ou negativo, para a qualidade da vida familiar.
Quando todos assumem sua parcela de
responsabilidade como membros dessa pequena comunidade, é mais
fácil alcançar os objetivos básicos da vida em família:
Dessa forma, podemos sintetizar o objetivo comum da integração família-escola: a formação da cidadania responsável. Família e escola são comunidades sociais, onde é preciso combinar a satisfação das necessidades individuais com as necessidades da coletividade. Para isso, tanto no lar quanto na escola é preciso cuidar, nas miudezas do cotidiano, do desenvolvimento de:
cooperação/gentileza/solidariedade/respeito/consideração/responsabilidade.
Pais e
educadores podem colocar como meta de desenvolvimento de
crianças e jovens o respeito pelo espaço coletivo e pelas
diferenças pessoais. Isso tem como base a formação de
auto-estima: aprendendo a gostar e a cuidar de si próprio e
desenvolvendo a capacidade de cuidar bem dos demais.
A auto-estima é estimulada quando a criança
e o jovem sentem, por parte dos pais e dos educadores, o olhar de
apreciação, ou seja, o reconhecimento explícito de sua
competência e do que faz de bom. O que faz de ruim ou de
inadequado não precisa ser rotulado com críticas genéricas e
destrutivas. Pode-se trabalhar o aumento da consciência da
interação, descrevendo o comportamento que causa problemas e as
conseqüências dessa ação, tentando delinear em conjunto os
caminhos de mudança. A interação é uma rua de mão dupla e é
preciso estimular a criança e o jovem a reconhecerem sua
participação nas dificuldades da comunicação para, em
seguida, buscar soluções criativas para os impasses.
É importante enfatizar a importância de
buscar coerência e consistência entre os três aspectos
básicos da comunicação, ou seja, a "linguagem" de:
atos/palavras/expressões corporais.
Pais e professores queixam-se, com
freqüência, de não serem atendidos quando dão ordens ou
quando fazem ameaças. Ordens muito repetidas, gritos e ameaças
não cumpridas não transmitem firmeza e serenidade na posição
de autoridade. Ao contrário, revelam insegurança e
desorganização. Quando se formam esses becos-sem-saída da
interação, é essencial examinar a possível causa dos
obstáculos e procurar ampliar os recursos de comunicação, em
vez de ficar repetindo as mesmas estratégias que já se provaram
infrutíferas.
Um dos principais recursos de comunicação é
o desenvolvimento da sensibilidade para perceber as
"entrelinhas" das mensagens", ou seja, os
sentimentos que estão permeando a comunicação e superar o medo
de falar diretamente sobre esses sentimentos. Com isso,
entenderemos que, com freqüência,condutas de rebeldia e de
indisciplina são motivadas por insegurança, medo e baixa
auto-estima. Abrindo o campo da escuta e da conversa sobre os
sentimentos, tanto no lar quanto na escola, é possível
estimular a responsabilidade e a cooperação para se encontrarem
saídas para dificuldades e impasses. É o método da resolução
conjunta caminho diferente tanto do autoritarismo quanto da
permissividade.
Com a abertura do campo dos sentimentos e das
soluções compartilhadas, é possível aproximar famílias e
escolas no objetivo comum de criar uma comunidade educacional
harmônica, que viabilize a construção da democracia e da
cidadania, melhorando a qualidade do convívio.
Na prática da sala de aula, assim como no
lar, é a partir das miudezas do cotidiano que se podem trabalhar
os grandes temas da vida e desenvolver a arte do convívio.
Pais e educadores podem, com a ampliação dos
recursos de comunicação, descobrir que o desafio da educação
é estimulante, alegre e promove o crescimento contínuo de
todos.
Maria Tereza Maldonado, mestra em Psicologia
Clínica pela PUC-RJ, membro da American Academy of Family
Therapy e autora de vários livros, dentre os quais Histórias da
vida inteira e comunicação entre pais e filhos.